O NARCISISTA

Sim, eu me amo. Mas, se eu não me amar, quem irá? Sou do livro, a capa e o conteudo, sem mim o início não tem sentindo, nenhum fim é feliz. Sou narciso! Sou da bebida, o gole mais forte, sou do sabor, o embrigar, sou narcisista. Sou do teatro, a peça central. Sou do palco, a principal atração. Sou obra de arte esculpida, se sou da cena melhor artista, sou narcisista! 

O projeto de mim mesmo, possui acabamento perfeito. Como quadro artístico, sou obra prima. Ah medusa, inveje ou seduza, mas, minha imagem ao espelho d'água não irá cristalizar. Monalisa, você foi rascunho, minha graciosa beleza, Da Vince, nem ousou imaginar. Respirem, suspirem, inspirem, pois, minha imponência atrai pra si, irresistível admiração.

Eu não me acho lindo, tenho certeza que sou. Intrigante elegância, travestida em mistério, um ar de fascínio quando rir, grandeza exemplar, quando sério. Notável presença, presente evidente. Minha compania é uma dádiva, desfrute com gratidão. Sou no diálogo, o assunto. Sou da conversa, a opinião. Sou resenha, sem resumo, sou na síntese, o x da questão.

Sou o cerne, sou centro, o âmago e a pretensão. Sou com fé, a religião em mim mesmo. Sou da crença, a melhor intenção. Não apenas estou no coração de Deus. O Divino habita o meu coração. Em toda fábula, sou a lenda. Dos contos, sou o mito. Do argumento sou a conclusão. Luz, que reluz, sou chama? Ardo sem queimar. Se sou estrela, me deixa brilhar!

Sou mais que de mais, sempre suficiente, sim, eu faço falta. E a falta que minha falta faz, faz arder de paixão, mil registros de saudades. Sou o verso do avesso, sou no texto o poema, sou da estrofe o contexto, o pretexto, o drama e o dilema. Sou demais! Fora do comum, pra não ser normal. Acima da média, fenomenal. Em meio a tanta loucura, como narciso, sou genial!

- Edson Alves