No contexto de uma sociedade cada vez mais interconectada, a inteligência artificial (IA) emerge como ferramenta pivotal para a preservação da soberania nacional, mas também como vetor de vulnerabilidades inéditas. Em 2026, com a proliferação de algoritmos autônomos em setores estratégicos como defesa e infraestrutura crítica, o Brasil enfrenta o dilema de equilibrar inovação tecnológica e proteção contra ameaças cibernéticas. Essa dualidade, exemplificada pela ascensão de potências como China e Estados Unidos na corrida pela supremacia em IA, demanda uma reflexão sobre como a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) pode mitigar riscos sem comprometer o desenvolvimento econômico.
Historicamente, nações que negligenciaram a integração ética da IA em suas estruturas de segurança pagaram caro por isso. O caso dos Estados Unidos, com o escândalo Cambridge Analytica em 2018, ilustra como algoritmos manipuladores de dados podem subverter processos democráticos, infiltrando-se em eleições e polarizando sociedades. No Brasil, um episódio análogo ocorreu em 2022, quando vazamentos de dados pessoais via apps de IA afetaram milhões de cidadãos, expondo fragilidades na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Tais eventos revelam que a IA, ao processar volumes massivos de informação, amplifica desigualdades: enquanto países desenvolvidos investem em ciberdefesas avançadas, nações emergentes como a nossa correm o risco de se tornarem alvos de espionagem estrangeira, comprometendo a autonomia em negociações internacionais, como as do BRICS.
Ademais, do ponto de vista geopolítico, a IA redefine as fronteiras da inteligência estatal. Relatórios da ONU de 2025 alertam para o uso de drones autônomos em conflitos assimétricos, onde algoritmos preditivos podem antecipar rebeliões ou ataques terroristas. No Brasil, com sua extensa fronteira amazônica e dependência de exportações de commodities, a ausência de regulamentações específicas para IA em inteligência pode fomentar cenários de desinformação, como visto nas fake news durante a pandemia de COVID-19. Assim, a ABIN, como guardiã da informação sensível, deve priorizar a capacitação de agentes em análise de big data, integrando parcerias com universidades para desenvolver modelos de IA nacionais, resistentes a interferências externas.
Diante disso, urge ao Estado brasileiro, por meio do Ministério da Defesa e da ABIN, instituir uma Política Nacional de IA para Inteligência, com investimentos em pesquisa e treinamento obrigatório de 10 mil servidores até 2030, financiados pelo Fundo Nacional de Segurança Cibernética. Paralelamente, a sociedade civil, via conselhos consultivos, deve fiscalizar a transparência algorítmica, evitando vieses discriminatórios. Somente assim, o Brasil transformará a IA de ameaça em aliada, salvaguardando sua soberania em um mundo hiperconectado.
Por: - Edson Alves
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