A geopolítica contemporânea, moldada pela interdependência global pós-pandemia, posiciona o Brasil em uma encruzilhada estratégica: equilibrar multipolaridade e autonomia em meio a tensões como a rivalidade EUA-China. Vislumbrando 2026, com a reconfiguração de cadeias de suprimentos e o surgimento de blocos econômicos rivais, a nação sul-americana deve reinventar sua diplomacia de inteligência para salvaguardar interesses nacionais. Esse imperativo recai sobre a ABIN, que precisa transcender análises reativas para antecipar cenários que afetem a estabilidade interna e externa.
Exemplos históricos sublinham a urgência dessa adaptação. A Crise dos Mísseis de Cuba em 1962 demonstrou como falhas de inteligência podem escalar conflitos regionais, uma lição ecoada na neutralidade brasileira durante a Guerra Fria, que preservou sua soberania mas isolou o país de alianças tecnológicas. Mais recentemente, a pandemia de COVID-19 expôs vulnerabilidades: enquanto a China dominava a produção de vacinas, o Brasil enfrentou desinformação e bloqueios de exportações, conforme relatório da CEPAL de 2023, que aponta perdas de US$ 50 bilhões em comércio. Essas dinâmicas revelam como a geopolítica afeta a coesão social, com migrações forçadas e disputas por recursos naturais — como a água na Bacia do Prata — ameaçando a integração latino-americana.
No âmbito doméstico, a geopolítica intersecta com questões ambientais e econômicas. A Amazônia, epicentro de interesses globais, atrai olhares de potências que veem na biodiversidade uma commodity estratégica, como evidenciado pelo Acordo de Paris revisado em 2025. No entanto, a defasagem em inteligência geoespacial permite extrações ilegais estrangeiras, minando a soberania e exacerbando desigualdades regionais. Assim, a ABIN deve integrar dados satelitais com análises preditivas para mapear ameaças, inspirando-se no modelo europeu de inteligência compartilhada via UE, adaptado à realidade do Mercosul.
Nesse sentido, o Itamaraty, em conjunto com a ABIN, deve lançar o Programa de Inteligência Geopolítica Integrada, investindo R$ 5 bilhões em satélites e treinamento diplomático até 2030, fomentando alianças com o G20 para monitoramento conjunto de rotas comerciais. A academia e ONGs, por meio de fóruns anuais, devem contribuir com estudos prospectivos, democratizando o conhecimento. Ao fazê-lo, o Brasil não só neutralizará riscos, mas capitalizará oportunidades, consolidando-se como polo de estabilidade no Hemisfério Sul.
Por: Edson Alves
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