domingo, 17 de novembro de 2019

O PALHAÇO E O CIRCO


Da mesma forma que...
O fanático busca na religião
Silênciar seus delírios na fé.
O romântico percebe na poesia
A fulga da realidade sofrida.
O músico encontra na melodia
Harmonia, dosagem de equilíbrio
O artísta retrata na obra prima
A escultura bela, de mera ilusão.
Há palhaços que entram pro circo
Para resistir as próprias loucuras!

Criança percorre tranquila a infância
Até o trauma tentar a esperança tragar
Jovem vive intensamente sua energia
Até a tentação ameaçar sua força domar.
Adulto colha os frutos da maturidade
Até que ar de maldade amargue sem avisar
Idosos revele como chegar a esta etapa da vida
Pois, não haver cedido é proeza espetácular.

Há tanta loucura erguida como circo ao redor.
Que fica improvável não fazer da platéia social
Motivo de tantos anti herois rebeldes, aclamados.
E tantas almas surtadas a espera de socorro, alívio.
Gemendo a beira da morte, no teatro da existência.

Sem piedade, dá dó.
Que pena, quem pena.
Quem padece em cena
Dilema de Jó, um nó.
Nó na garganta com tanta
Notícia ruim ao redor.    

O palhaço lhe faz rir
Mas, por dentro chora.

Alegorica felicidade
Tensa loucura da arte
No bem que destina.
Com ar de maldade.
Euforias, histerias,
Máscaras e disfarces.
Não há como maquiar
Quando a dor surgir
Será triste e sombria
As janelas do olhar.

Tem gente que não sabe rir
Só por haver esquecido sobre
o quanto o medo ainda apavora.

Tem gente indecisa
Não sabe se rir ou
Se chora agora.

Mesmo assim chove?
Dias de cinza e dor!
Lágrimas escorrem
Brotam dos olhos
Na razão do sofrer.
É o luto? Lute por viver!
O luto é o preço do amor.

De gênio e louco
Todos nós temos
Dos dois, um pouco.

Mas, um palhaço Louco,
Não nasce da noite pro dia,
É fruto da miséria na vida.
É parte de uma sociedade doente.
O palhaço vibra. O palhaço sente.
Contentamentos, descontentes,
Das dores que desatinam pra doer.
Das memórias que nos fere, tente!
Tente não lembrar, tente esquecer.

De toda humilhação que lhe fizeram passar.
De mentiras, injurias que contaram de você.

Tente esquecer! Tente não lembrar! 

Da porta que se fechou aqui.
Do abismo que se abriu ali.
Do fora que levou lá e acolá
Tens que esquecer, não lembrar

Se a vida for forja
Seja você a chama
Centelha, que ama
Que padece e sofre
E jamais faz sofrer.

O palhaço pincela alegria no próprio rosto.
Para não lhe assustar com tanta tristeza.

O palhaço brinca com fogo
Para entreter a platéia.
Mas, é em casa que as queimaduras
Lhe fazem sangrar e sentir dor.
Angústiado por quase morrer.

Do palco ao picadeiro, aplausos.
Da escada á ladeira, vaias
Chão á baixo, rolando sem saber.
Onde ir? Aonde pousar?
Abrigo, um lar e repouso?
Pro palhaço nunca há lugar.

Até que a mãe se vai.
E o pai não vem.
Sem nada ao redor
Se perde também

Abandona a delicada ternura
De um rosto sereno e gentil
Para se afogar em amargura
Nas sombras do mundo vil!

É aí que as piadas já não fazem menor sentido.
Sem saúde mental, o show tem que continuar.
O respeitavel público vai a delirio, gargalhadas!
No delírio doido do palhaço que só quer chorar!

Este não é qualquer palhaço, assim irei demonstrar.
Chega de mimimi e blábláblá. Bye bye, tititi, tatatá!
Senhoras e senhores, sinto lhes apresentar, Coringa!
Ídolo deste manicômio social, travestido de geração!
Porém, se olhe no espelho, o Coringa não está no filme!
A gente elege aquilo que nos identifica, nossa melhor expressão!
Por isso, muita gente ama ser feito de bobo, rindo da própria tragédia.
Palhaço ou Coringa, diga quem vocês são?


- Edson Alves
Versão: Piscanalista
Tom: Preocupado
Conto: Hospício Social.

2 comentários:

  1. Texto fantástico!

    Essa sociedade perversa cria as dores, sofrimentos, angústias, raivas, ódios, vilões ... Espero que nem todos os artistas busquem nos instrumentos de trabalho, o alívio de suas dores, e sim, principalmente, a busca tenha sido pelo encantamento pela vida. Todavia, é fato que o sofrimento tem potencial de intrigar, de ação, de criar... Todos somos artistas no palco da vida, nas nossas relações sociais, sejam alegres ou tristes. Cada um ao seu modo. Se a busca pelo alívio não for para ferir, mas sim, para distribuir amor e risos, que retorne ao artista como missão cumprida, como motivo para viver.

    Ah! Espero que todos respondam ser "palhaços", jamais "Coringa". Chega de gerar sofrimentos. E que os palhaços se apresentem pelo o amor a arte, à vida.

    Ingrid Miranda

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    Respostas
    1. Não é qualquer um que interpreta com tanta facilidade o que um autor deseja dizer. Fico muito feliz que tenha gostado de minhas considerações. E sou grato por haver separado um tempo pra poder ler e comentar esta postagem. Muito obrigado.

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