quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

MEMÓRIAS RESPIRATÓRIAS


 

Tudo começou em dezembro.

Era só um caso isolado.


Era lá na China. Nada demais.

Não tinha muito com o que se preocupar.


Depois chegou na Itália.

A primeira morte.

O primeiro lockdown.

De repente aquela cena de corpos empilhados.

E o problema cada vez mais perto.


No Brasil eram tempos de carnaval.

E por aqui nada pode ser mais importante que isso.

O vírus que lute.

Depois da quarta-feira de cinzas a gente vê o que faz.


Disseram que só atacava idosos.

Aí a blogueira fitness ficou mal.

Um atleta saudável foi parar na UTI.

O primeiro jovem morreu.


Disseram para fechar tudo.

Depois protestaram para reabrir.

Morrer de fome ou de corona?

Sem leito ou sem emprego?

Salve-se quem puder.


O primo do amigo da minha vizinha pegou.

Depois o vizinho do cunhado dela.

Depois ela.

Depois vários outros.


De repente os números começaram a ganhar rostos.


Nomes, histórias, saudades...


Mil pessoas mortas por dia é só um dígito.

Uma pessoa amada morta é um punhal.

Uma cicatriz eterna.


A gripezinha que quebrou a economia.

Que adiou uma olimpíada.

Que colocou o mundo de joelhos.


Uma guerra contra um inimigo invisível

que os livros do futuro hão de registrar.


Faltou caixão, sobrou soberba.

Faltou ar, sobrou medo.


Quem leu até o final 

Deixa um "up" 😥

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