sábado, 1 de junho de 2019

AURORA, GEADA E O DIAMANTE


Reza a lenda que há uma cruz no Norte, ao lado dela há um frasco, com o pó das estrelas e as lágrimas da Aurora. No chão próximo a cruz, está escrito: Meu amor não se foi, mas, está vivo dentro de mim. Sempre que alguém repete estas palavras, aurora colore o céu como aceno de gratidão e felicidade. Então, pós cristalinos, semelhante a diamantes, começam a se desprender das nuvens a terra, dizem ser os céus chorando, ou quem sabe, o próprio Deus emocionado.

Pra quem considera meu amor uma alucinação. Entrego mais esta lição. Às vezes, enfrentamos invernos tão violentos, a única alternativa que nos resta é encontrar beleza onde deveria existir terror. Erguemos nossas mãos aos céus, servimos de amparo para chuvas de cristais de neve que despencam sem dó sobre nós.

O treinamento da vida é infalível. Todo verão e primavera são quase sempre ideais. Ainda assim, não é sempre que damos valor. Embora o outono e o inverno sempre venham. Somos pegos de surpresa, não há como não dar atenção. O que nos afeta, não nos deixa indiferente. Sei que existe alguns, que sobrevivem ao deserto da vida. Guerreiros, suportam do sol escaldante do Saara ao frio terrível do Ártico.


Mas, alguém já conheceu o mar do norte? Quem conheceu, sobreviveu? Me permita contar uma história triste e bela, sobre Aurora, Geada e o Diamante. Enquanto sente nesta noite admiração e temor pelo frio. No lugar mais improvável, o amor foi fonte de calor para os sonhos de sobrevivência de uma família vangante e sua herança.

A neve caia em forma de cristais. Toda neve cintilante no céu, parecia jóia brilhando no ar. Ninguém me contou, em meus sonhos, eu vi com meus próprios olhos, e sim, você estava lá. Toda a exuberancia experimentada, teve um preço. Pois, da mesma beleza que atraiu nosso olhar, paralizou nossa atenção, congelando nossos sonhos.


Como vento devastou o jardim de nossos segredos, sem que tivessemos como nos agasalhar. O povo do Ártico, conhecem muito bem este frio. Ele representa a morte de muitos seres vivos. Como uma mistura de terror e orgulho, chamam o fenômeno de diamante em pó. Lá ursos polares se arriscam a atrevessar o extenso, perigoso, e frágil mar de gelo.

Fazem isto sempre que não existe outra saída para sobreviver. É a existência revelando ao coração, a fúria da vida. Ao redor, quando não há enormes montanhas de gelo, há na linha do horizonte a certeza de uma caminhada interminável. O desespero e a sensação de abandono, nos faz tremer, tanto quanto o frio gélido. Lábios cristalizados não consegue expressar mera oração por socorro.

Naquele mesmo silêncio incomensurável e mórbido, dá para se ouvir as batidas lentas do nosso coração ecoar. Eu em seu olhar cristalizo, pouco a pouco, a exemplo de nossos lábios. Você me implora um abraço, para vencer o medo do assovio assassino da rajada de vento. Mesmo ali, conosco quase a perecer, nosso amor insiste, onde resiste audacioso apego a vida.

Finalmente, lá você entende que só existe o aqui e o agora. Segura firme em minhas mãos, como quem não quer ceder ao porvir. Pois, assim como o paraíso, o tormento existe, mas, ninguém quer encontrá-lo. Não mencionarei a gratidão que deve ser sentida Aurora. Não citarei o óbvio, posto reconhecer a grandeza de nossas lembranças.


Apenas, lhe aconselho, que não abandone o profundo valor daquilo que pode por ti, pode ser experimentado até o último instante. Aurora desmaia. As vezes a solidão que o destino reserva pode ser terrível. Onde somente o calor das lembranças, memória de quem ama, nos faz atrevessar o frio da madrugada com vida.

É o calor desse amor que nos protege a noite inteira. Que nos garante a vitória sobre a sobrevivência. E a nevasca não se despede até nos ensinar a lição mais dura: Que o luto é o preço do amor. Que enquanto o coração bater, tudo que ama, permanecerá existindo. Diamante desejou viver, para que Aurora jamais morresse em seu coração.

As vezes lembranças e memórias, já são suficientes, para não desistir de lutar. E atravessar o mar gélido, com seu amor em seus braços. Prevalecendo contra o frio e a solidão. Mesmo que este sacrificio signifique, que quando Aurora acordar, infelizmente, Diamante já terá dormido pra sempre. Com ela nos braços.
Quando Aurora acordou, Diamante e Geada já haviam se despedido, rumo a eternidade. Olhe a tristeza nos olhos e sorria. Faça que de sua dor transborde apenas alegria. Você está viva, faça com que nossa partida tenha valido á pena. Esperamos te rever um dia, na eternidade. Por favor, não deixe de cumprir sua missão, cuide dos pequeninos por mim. Te amo.

Ninho,
Versão: Urso Polar.
Tom: Despedida
Conto: Aurora, Geada e o Diamante.  

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