Polarização, conciliação e inteligência
A polarização é sempre um mal. Primeiro porque parte da lógica do conflito. Depois, porque reforça apenas a incompatibilidade entre dois extremos. E mais: nega a possibilidade de consensos e convergências. A polarização apenas instiga a radicalização dos extremos incompatíveis e, pior, o faz pelo registro do ódio. É a lógica, potencializada pelas redes sociais, da lacração.
Na política e na vida, por outro lado, o caminho da pura e simples composição é sempre ruim também. Priva o sujeito de posicionamento e impede que a coletividade tenha firmeza nessa ou naquela posição. É o que se denomina conciliação. Esse modo acomodado de agir e decidir. A conciliação é nociva porque apenas cede e, não raro, acaba por silenciar o lugar e o direito dos mais fracos na relação.
Para além da conciliação e da polarização está a busca democrática, e efetivamente dialógica, de caminhos que aprofundem as convergências e mitiguem as divergências. Mesmo os acordes dissonantes têm sua beleza e seu lugar adequado. Uma nota fora do lugar e, aparentemente em descompasso com as regras harmônicas, pode ser justamente o que torna a música mais bela.
A palavra equilíbrio não dá conta desse caminho criativo que considera as muitas vozes que há. Equilíbrio dá a ideia de estaticidade; dá a ideia do ponto em que o movimento do pêndulo para ou se mantem inalteradamente num eterno vai e vem. A vida é, por natureza e definição, um desequilíbrio permanente. É a tensão das moléculas – força, temperatura, pressão, velocidade e um sem números de imprevisibilidades – que tornam a aventura
A ideia que supera a guerra das polarizações e o marasmo das conciliações é a inteligência inquietamente itinerante e inconformadamente inacabada. A saída não é um caminho apenas – qualquer que seja. A saída está em assumir múltiplas e plurais caminhadas.
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