Eu
sempre tive amor pela morte. Não se assuste, é que o ângulo que meus olhos
escolheram para fotografar a morte é distinto aos demais. Não falo jamais do
mito da morte, aquela que tem sede de sangue. Não! Refiro-me a morte serena, a
que chega repentinamente, a que revela em todo um fim, um novo início. Vejo
assim, porém, por favor, não me encare como um insano sofrendo seus delírios.
Não observo a morte como o encerramento, mas, como passagem, uma espécie de
finalidade humana. Um portal que nos conduzirá ao além, aos braços do Divino.
Distante quem sabe estaremos das dores da vida terrena. Estou farto do teatro
que é a vida terrena. Nunca tive sangue de artista grego, seus dramas e
máscaras não foram forjados para meu ser singular. A morte é um caminho misterioso
que nos conduz a algum lugar que tememos por desconhecer seus profundos
segredos. É um túnel, em seu fim vejo a luz brilhar. É a janela que dá para um
quarto escuro. É o princípio logo após o fim. É a dádiva, só que agora por
completo e perfeita. É o único jeito de nos elevarmos além dos corpos mortais
nos tornando novamente semelhantes ao absoluto, novamente eternos. O problema é
que ninguém consegue decifrar o enigma da morte, afinal, para desvendar é
necessário antes viver uma vida bem vivida. Cumprir a missão do ser e estar,
bem como fazer a diferença. E ainda assim, encontrar o caminho de volta e nos
revelar e se privar de viver o outro lado da existência, agora plena e pura. A
morte é o cheque mate de qualquer destino, quando natural, sempre será bem
vinda, meu coração te convinda a entrar e minha alma lhe vence, após matar o
cazulo de meu ser, a prisão imperfeita e corroída, o vale da perdição do ser,
esse corpo carnal e pecador. Não temos medo da morte, mas, do juízo que precede
a ela. Na verdade o que tememos é a consequência de nossos atos.
-Edson
Alves
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