REFÉNS DO PENSAMENTO DE FREUD
Entre o si e o talvez, reside sempre à dúvida. Ao
que podemos afirmar sem certeza de nada que o mundo mudou. O mundo mudou! O
mundo mudou? O mundo mudou em quê? A Religião assim como a modernidade nos
prometeu um mundo melhor. E o que vemos ao redor? Como observamos os sinais a
nossa volta, perplexos ou insensíveis? Esse foi o ponto de partida pelo qual
escolhi discutir a respeito do quanto ainda somos reféns do pensamento de Sigmund
Freud em sua crítica a religião. Vejamos nossos heróis nunca foram heróis de
verdade! Trocaram o “cuide dos pobres” pelo “enriqueça a qualquer custo isso te
fará bem!”. Como se dinheiro e felicidade fossem companheiros inseparáveis.
Pois bem, longe de parar por aí, reflita um pouco sobre o significado dos
clichês gospel. “Pare de sofrer”. Pare de sofrer? E a presente tribulação do
século se perdeu no milênio? O correto seria aprenda com o homem das mãos
furadas, corpo moído e os pés sangrentos da via dolorosa, e quem sabe no
madeiro você encontre o verdadeiro significado de viver. Definitivamente o
sentimento bárbaro aparece uma vez ou outra no meio de nós, nos falte talvez sentir
repulso por tais sentimentos. Mas, somos tão tímidos na maneira de viver nossa
fé. Quem sabe nossa fé não seja genuína. Quem sabe nossa religião não seja
cristã, ou seja, apenas uma caricatura da Religião muito distante da Religião
em si. Imagino que talvez sejamos mais religiosos do que cristãos e aí more o
perigo. A verdade é que nossos discursos foram belos, porém apenas discursos
não amadureceram a prática. Mesmo tentando fugir de generalizações me incomoda
admitir que a fome, a miséria, as doenças, os vícios, a corrupção não nos
incomode mais. Tornamos-nos expert’s em insensibilidade. Onde está o ”Ide por
todo mundo, pregai o evangelho a toda criatura”? A palavra de ordem hoje é,
fique onde está e cuide de si mesmo! Primeiro você. E depois? Tarde de mais para
pensar-nos em outros! Continue, você precisa pensar em você, este é o momento
que você mais precisa de si. Afinal, o outro não pode te ajudar pelo fato de
também ter aprendido a pensar em si mesmo! Triste, no entanto, é a verdade
desnuda diante de nossos olhos ambiciosos pelo destaque, pela fama, pela grana,
pelo status, pelo poder, exclusivamente pelo poder. Somos reféns do pensamento
de Freud, muito antes do pensamento de Sigmund Freud existir. Nas palavras do
próprio Sigmund Freud segue abaixo. :
“Nada do que eu disse aqui sobre o valor de verdade
das religiões precisa de apoio da psicanálise; já foi dito por outros muito
antes que a psicanálise surgisse” (Os pensadores, p. 112).
Afirmo isto, por entender que talvez Freud tivesse
observado o suficiente para compreender o quanto a religião estava
comprometendo a substância da fé cristã de sua época. Afinal, é nossa
prerrogativa, defendermos que a fé sem obras é morta. E si S. Freud estivesse
incomodado com a morte dessa fé? Talvez em sua maneira de pensar a única saída
seria assumir responsabilidade. Colocando no lugar da “ideia” de Deus a
Ciência. Seria uma forma convincente de dar um basta na situação cômoda de
lançar para Deus os problemas que deveríamos resolver. E se na verdade o desejo
de S. Freud fosse que vivêssemos a vida no seu mais profundo significado? Falar
de Ciência para Freud talvez equivalesse a falar ao homem, viva a vida! Assuma suas
responsabilidades! Encare os desafios de frente! Resolva seus próprios
problemas! Deixe de ser criança, seja homem! Em carta escrita a um amigo Freud
afirma. :
“O fundamento último da religião é o desamparo
infantil do homem”.
Segundo Urbano Zilles no capitulo 7 intitulado Freud:
A provocação do ateísmo psicanalítico. Pp147 do livro de Psicologia da
Religião, a origem da religião aparece, em Freud como a nostalgia que o homem
tem de um pai onipotente que o console e proteja, em sua angústia pela dureza
da vida.
Digo que somos reféns do pensamento de Freud pelo
fato de não apresentarmos nada de concreto que invalide sua maneira de pensar
ao nosso respeito, muito pelo contrário, estamos cada vez mais, mesmo que sem se
dar conta, amalgamados com o pensamento de Freud a respeito da religião. Sei
que generalizações é um risco, não podemos lançar tudo dentro de um mesmo saco
e criarmos um balaio de gato. Mas, as exceções que invalidam seu pensamento é
um perigo ainda maior, pois, não evidencia uma mudança, não promove
transformação e amadurecimento de nossas práticas religiosas anticristãs. Mesmo
por que, Freud não nega que a religião tenha exercido papel positivo para a
humanidade. Segundo Urbano Zilles, Freud rejeita, pois, a religião como mundo
ilusório e neurótico e defende a ciência. Mas, e se Freud estivesse errado?
Talvez nós não precisássemos considerar os radicais, porém, o meio termo, um
espaço ideal para um diálogo justo e fraterno. E se colocar a Ciência no lugar
da Ideia de Deus, ou da religião, não passasse de projetar uma sombra? E si...Talvez?
Resta-nos a dúvida. Será? Fundamento para tal dúvida, consiste em refletir que
enquanto Freud nega a religião, Adler a tolera, Jung a vê com muita simpatia.
Em síntese, Adler e Jung relativizaram muito a crítica da religião feita por
Freud. Sendo assim, eu fico entre o sí e o talvez. Me arrisco a dizer que meu pensamento é Freud mesmo, risos.
- Edson Junior.
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