segunda-feira, 1 de abril de 2013

SEM ALGEMAS.



Uma criança corre pela floresta, observa o cair das folhas e o charme incomparável da manhã de outono que se apresenta. O sol e os pássaros parecem saudá-lo, viva a vida, respire, expire, deixa o vento te levar. Que leve pra qualquer lugar, afinal, aqui, na infância, nenhum lugar é qualquer. E como folha nas mãos do vento a soprar, o menino voa, após voar pousa a beirar rio, finalmente dando seu primeiro mergulho, calafrio, arrepio, frio de mais faz a água gelada sobre esse corpo franzino, sobre esse coração em chamas. Convide-me a viver a inocência por toda a eternidade, faz morrer de saudade a adolescência que não vivi e nem quero viver. A juventude que não vi e nem quero ver, a fase adulta que está tão longe e melhor assim, o que mais me importa é o hoje. Sei ser cedo para dizer jamais, no entanto, nunca é tarde para perceber no presente o maior presente. Viver a vida e ser feliz é viver a vida na intensidade em que se revela e na abundância em que se apresenta, é valorizar os detalhes, é ser acima de tudo pequeno, é nutrir um sentimento puro, presente no brilho do olhar, janela espetacular da alma, é ser você. É sentir você, é valorizar o ser e a criação. É acariciar as plantas, é cheirar o perfume das flores, é sentar no jardim para lanchar, e deliciar os lábios rosados com tantos frutos, hoje, e por hoje exceto maça. E sem preconceito, reconhecer os limites e obedecer às regras, é também ouvir enquanto somente escutou, é observar mais somente do que ver, é notar e anotar nas tábuas do coração, é permanecer livre de tabus, é sentir que a alma não está ferida e o espírito livre para refletir por si mesmo e sem algemas. É admitir que longe de Ti, tudo para, e não faz sentido ser sem você. Assim que o dia anoitecer pela primeira vez, sentirei saudades de um período que era só manhãs, sem noites; De um momento que eram só arvores e frutos, sem maçãs; De um instante que era eterno e deixou de ser por que me perdi de você. Volta-te a mim, corre em minha direção com este amor furioso e me resgata da prisão que eu mesmo procurei. Sim, talvez, após um tempo voltar, a dor que sinto irá me abandonar, e pela última vez verei as correntes despedaçadas aos pés. Tais pés, que correrão em sua direção para novamente um eterno abraço, novamente livre, dessa vez, sem algemas.
- Edson Alves

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